
O lenhador da Colina
Faz três décadas que o mundo não vê um dia claro de sol,
por todos esses anos a terra esteve cinzenta e fria...
cansamos de esperar pelo dia claro e o verão,
aprendemos a engolir
a seco,
aprendemos a engolir o choro,
somos árvores secas que não tem mais seiva,
aprendemos a ser forte e morremos lentamente
feito uma ruína que resiste ao tempo,
seria melhor desabar de uma vez...
Disseram que mais ao norte mora a esperança,
caminhamos para lá,
mas tudo que vemos é a neblina e a cinza que se expande...
todo mundo que ainda anda por essa terra
tenta de algum modo fazer contato uns com os outros,
o medo nos tornou solidários...
Depois dessas árvores mora o lenhador,
parece mais forte que todos nós,
nunca se ouviu a sua voz,
mas ele nos atrai para sua teia de mistério
e silêncio feito, arranhas silenciosa.
Esperamos que ele abra a boca,
como quem espera de alguém uma boa nova,
mas ele não diz nada e nem se quer nos olha...
Talvez para ele o mundo sempre foi cinza e frio,
talvez ninguém o notaria
se não fosse o silêncio e o
mistério que o envolve,
talvez se o dia fosse lindo e claro
ninguém perceberia o lenhador
da colina.
Nesse tempo de ar acinzentado
aprendemos a ver e a reconhecer as coisas
através de seus contornos.
Nunes