Eu sou o jardineiro do Planalto Central,
Nunca vi lugar para ter tanta gente
Para pisar nas flores e no gramado
Que cuido com tanto amor e carinho
Desde a inauguração da cidade de Brasília.
Tem um povo de vermelho
Que é um inferno,
Com suas foices, pedras, facões e paus...
Essa gente pisa em tudo.
Não é diferente de outros,
Que dizem não ter partido,
Com seus bonecos, panelas, faixas e panfletos.
Ainda tem aqueles homens de camisa preta,
Todos os dias, de um tempo para cá,
Vem fazendo alvoroço,
Eles entram que nem gato
Atrás de ratos no paiol,
Sai gente até pelo ladrão,
Correm pelo gramado
E se escondem atrás dos arbustos,
Tem uns que lá mesmo fazem suas necessidades.
Eu mandei o chefe do sindicato sair do jardim,
Ele falou que estava lutando por mim,
Para que eu tivesse melhores condições,
Então pedi pra ele uma tesoura nova.
O sindicalista disse que não era nada disso,
Que ele falava de me tirar do subemprego...
Fiquei me perguntando:
Quem é que vai aparar a grama
E cuidar do jardim do Palácio Central.
Não entendi!...
Eu ganho mais que professores, doutores e advogados
Que são muito bem estudados...
Tudo bem que sou bom no que faço!
Sim, sou um simples jardineiro,
O que eu sei de política
É que todo mundo tem que trabalhar e ser honesto,
O resto é conversa para doutores.
Tudo que eu quero é que não pise no gramado.
Vou falar para o Presidente
Colocar uma placa com os dizeres
"Não pise nos canteiros de flores e no gramado."
Vou pedir que ele faça uma lei
Pra multar quem pisar e sujar o jardim do Planalto.
Para esse canteiro de flores
E para esse gramado
Eu sou mais importante que todos
Os reis e presidentes que passaram por esse Palácio.
José Nunes Pereira 18-05-2017
(corrente literária Essencialismo)