
Nas ruínas do templo
Se você veio até aqui,
Pelos mesmos caminhos que passei,
Certamente você viu...
As cruzes e as encruzilhadas onde morri um pouco a cada dia.
Certamente você viu...
Onde caminhei altivo, onde me arrastei feito
Um soldado ferido sangrando.
Certamente você viu...
A árvore, a sombra onde parei para descansar.
Certamente você viu...
Formar no céu, nuvens baixas e negras
Prenunciando á tempestade...,
E os relâmpagos de descobrimentos
larearem à face oculta de tua mente.
Certamente você ouviu...
No deserto, o ruivo de cães famintos
E de corvos insaciáveis de carniça humana.
Certamente você viu...
As ruínas do templo, os desertos de sal
E a solidão tempestuosa dos mares.
Certamente você passou
Pela noite de seduções de demônios fornicários.
Certamente você viu...
As asas do cavalo dragão, a visão do paraíso
E os símbolos oníricos.
Certamente você viu...
Humanos largados aos vermes
Ossadas largadas à terra e as pegadas do Mestre.
Certamente você perdeu e encontrou,
E voltou a perder os companheiros a caminho.
Certamente você viu o céu se abrir
E revelar o porvir da humanidade.
Certamente você se viu vestindo com qualquer coisa
Porque estava nu e descalço;
Sem saber para aonde ir.
Certamente você viu...
Que a vida e a matéria são miragem,
E que o espectral é sólido.
Certamente você viu o horizonte rasgado,
E para além do explicável o angustiante caminho sem fim.
Certamente apareceu os cemitérios,
Simbologia clara, de que temos que morrer...
Certamente você viu
A oxidação da matéria aqui dentro da eternidade.
Certamente você me vê
A caminho sangrando.
Certamente ainda virá A Noite Escura da Alma
De São João da Cruz.
Nunes