Música Imprevisível
Toquei feito corda de violão
O fio desafinado
Da teia da Aranha de Bananeira...
O som imprevisível da queda d'água,
Que depois corre entre árvores,
Mais o canto das cigarras,
Desse grilo, o sapo o salto de um peixe,
Dos pássaros e das asas dos insetos,
Ventos nas folhas e estralar de bambus
Arqueado ao vento...
O som de um bicho qualquer
E a qualquer momento,
Ainda o som de quedas de galhos
E frutos, mais o sopro constante do vento
E da água que não cessa de cair e correr
Entre pedras e troncos.
A qualquer momento entra um vento mais forte
E a chuva fina nas folhas e as gotas no chão e no rio.
Os passos de um cavalo,
O ronco de um motor não muito longe...
A música imprevisível não para nunca,
Quando tudo cala resta o som de meu sangue
Correndo em minha veia, o som das mandalas da alma,
O timbre do cerebelo, a visão, o ouvido de outro plano
E o som do coração que bate
E ama a música improvável.
Quando tudo cala posso ver e ouvir
A voz de séculos que ainda está viajando
No espaço e fazendo essa música imprevisível...
A voz de uma mãe ainda chama,
Em um plano muito mais sutil,
O menino que brincava embaixo das árvores.
O seu corpo deitado sobre a cama
Me lembrou o violão
Que não pode tocar essa música improvável.
José Nunes Pereira